ULTIMATUM
Mandado
de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu, reles esnobe plebeu,
E fora tu, imperialista das sucatas, charlatão da sinceridade,
E tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro...
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles.
E fora tu, imperialista das sucatas, charlatão da sinceridade,
E tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro...
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles.
Todos!
Monte de tijolos com
pretensões a casa,
Inútil luxo, megalomania triunfante...
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir...
Inútil luxo, megalomania triunfante...
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir...
Ultimatum a vós que
confundis o humano com o popular,
Que confundis tudo: vós, anarquistas deveras sinceros,
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar...
Que confundis tudo: vós, anarquistas deveras sinceros,
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar...
Sim, todos vós que
representais o mundo, homens altos,
Passai por baixo do meu desprezo;
Passai, aristocratas de tanga de ouro;
Passai, frouxos; passai, radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Passai por baixo do meu desprezo;
Passai, aristocratas de tanga de ouro;
Passai, frouxos; passai, radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para
casa descascar batatas simbólicas.
Fechem-me tudo isso a
chave e deitem a chave fora!
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar, abram todas as janelas,
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo...
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar, abram todas as janelas,
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo...
Nenhuma idéia grande, nenhuma
corrente política
Que soe a uma ideia-grão...
Que soe a uma ideia-grão...
E o mundo quer a
inteligência nova, a sensibilidade nova...
O mundo tem sede de que
se crie...
O que aí está a apodrecer
a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar, porque não é nada...
O que aí está não pode durar, porque não é nada...
Eu, da raça dos
navegadores, afirmo que não pode durar.
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo...
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo...
Proclamo isso bem alto,
braços erguidos, fitando o Atlântico
E saudando abstratamente
o infinito.
Álvaro de Campos – 1917
(um dos heterônimos de Fernando Pessoa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário