segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018



O TODO E A PARTE

Poema atribuído a Gregório de Matos.


O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo todo.
  
Em todo o sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
  
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
  
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.


Obs: o poema acima, de estilo barroco, escrito no século XVII, é atribuído a Gregório de Matos e é baseado num braço supostamente encontrado de uma imagem do Menino Jesus. Possui uma certa dificuldade de compreensão.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018




Meu Destino


Tal qual um Dom Quixote alucinado,
Vou cavalgando, sem um rumo certo.
Lanço no mundo o meu fremente brado,
Que morre nas areias de um deserto.

E assim vou tateando o meu caminho,
À procura do nada e do vazio,
Como a ave que nunca teve um ninho,
Nem agasalho protetor do frio.

Sigo na luta contra o meu destino,
Que, impiedosamente, me convida
Para o seu labirinto sem saída.

Sou como um grão de areia, pequenino,
No turbilhão dos vendavais medonhos,
Desfeito na poeira dos meus sonhos!

Geraldo de Castro Pereira