sábado, 5 de novembro de 2016




A  VOZ    DO   MAR

 

 Geraldo Carneiro

 

na nave língua em que me navego
só me navego eu nave sendo língua
ou me navego em língua, nave e ave.
eu sol me esplendo sendo sonhador
eu esplendor espelho especiaria
eu navegante, o anti-navegador
de Moçambiques, Goas, Calecutes,
eu que dobrei o Cabo da Esperança
desinventei o Cabo das Tormentas,
eu desde sempre agora nunca mais
cultivo a miração das minhas ilhas.
eu que inventei o vento e a Taprobana,
a ilha que só existe na ilusão,
a que não há, talvez Ceilão, sei lá,
só sei que fui e nunca mais voltei
me derramei e me mudei em mar;
só sei que me morri de tanto amar
na aventura das velas caravelas
em todas as saudades de aquém-mar.



 NOTA: homenagem que presto ao poeta, compositor e roteirista Geraldo Carneiro, de 64 anos,que foi eleito recentemente para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira 24, que pertencia ao acadêmico e teatrólogo Sábato Magaldi  Geraldo Carneiro é mineiro, nascido em Belo Horizonte. 

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