PIB -
Perfeito Idiota à Brasileira
O perfeito idiota brasileiro detesta ler, então este texto é inútil,
certo? Errado. Qualquer um corre o risco de se comportar assim.
Ele não faz trabalhos
domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder,
atrapalha o trabalho de quem pega no pesado. Aprendi isso em criança: só enfia
o pé na lama com gosto quem nunca teve o desgosto de ir para o tanque na área
de serviço, depois, esfregar o tênis ou a chuteira debaixo de água fria. Só
deixa um resto de bebida secar no fundo de um copo quem nunca teve que fazer o
malabarismo de meter a mão lá dentro com uma esponja, com a barriga encostada
na pia, para tentar lavá-lo.
Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, que vem
sendo reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam
em barris, nas costas, a toalete dos seus proprietários, e eram chamados de
“tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras
que lembravam a pelagem do animal. O perfeito idiota brasileiro, ou PIB, não
ajuda em casa também por influência da mamãe, que nunca deixou que ele
participasse das tarefas – nem mesmo por ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a
própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as
deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e
inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não
faz nenhuma questão de mudar. O PIB é um especialista em nãofazer, em fazer de
conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém
fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se
apoiam, nos outros, não reconhece obrigações e que adora levar vantagem. Esse é
o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários
particulares.
O tempo do perfeito idiota brasileiro vale mais que
o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos.
É a moça que estaciona em vaga para deficientes ou para idosos no shopping. É o
casal que atrasa uma hora num jantar com os amigos. A lei e as regras só valem
para os outros. O PIB não aceita restrições. Para ele, só os privilégios e
prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que todos os outros. É
um adepto do vale tudo social, do cada um por si e do seja o que deus quiser.
Ele só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os
seus.
O PIB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for
diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra
pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente
que mora longe. E ele é sexista para de mais. Mesma lógica: quem não é da sua
tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda
dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um
jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si, mas
de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PIB
adora isso.
O PIB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas
porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é
sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso” e “veja o quanto eu paguei nesse relógio
ou nessa calça”. Ele exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É
assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas
aos itens do vestuário e aos acessórios que carrega. É brega. Compra para se
afirmar, para compensar o vazio e as frustrações, para se expressar de algum
modo. O perfeito idiota brasileiro não se sente idiota pagando 4 000 reais por
um console de vídeo game que custa apenas 400 dólares lá fora. Nem acha um
acinte pagar 100 000 reais por um carro que vale 25 000 dólares. Essa é a sua
religião. Ele não se importa de ficar no vermelho – a preocupação com ter as
contas em dias é para os fracos. Ele é o protótipo do novo rico burro. Do
sujeito que acha que o bolso cheio pode compensar uma cabeça vazia.
E o PIB detesta ler. Comprou “50 Tons” para a
mulher. E um livro de autoajuda para si mesmo. Mas agora que a novela está boa,
ficou difícil achar tempo para ler.
:Fonte: http://www.manualdeingenuidades.com.br/2013/12/09/o-perfeito-idiota-de-classe-media-brasileiro/
Nenhum comentário:
Postar um comentário