sábado, 3 de dezembro de 2016




SÓ DE SACANAGEM

 

ELISA LUCINDA

 

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva
o lápis do coleguinha",
" Esse apontador não é seu, minha filhinha".
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal".
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dar para mudar o final!

 

"Elisa Lucinda dos Campos Gomes (Vitória, 2 de fevereiro de 1958), é uma poetisa, jornalista, cantora, e atriz brasileira.

Mudou-se para o Rio de Janeiro, numa vila da Tijuca, em 1986, disposta a seguir a carreira de atriz. Trabalhou em algumas peças, como Rosa, um Musical Brasileiro, sob direção de Domingos de Oliveira, e Bukowski, Bicho Solto no Mundo, sob direção de Ticiana Studart. Integrou o elenco do filme A Causa Secreta, de Sérgio Bianchi.

Seu primeiro trabalho na televisão foi na telenovela Kananga do Japão, em 1989, na extinta TV Manchete.
Fez várias apresentações teatrais, com declamação de seus poemas, e algumas com a participação especial de Paulo José. No mesmo formato apresentou em seguida Eu te amo Semelhante.

Acredita no poema vivo pela declamação, tanto que criou uma associação no Rio de Janeiro de estudo de declamação que promove saraus".
FONTE: GOOGLE

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