O MENINO DE RUA
Quando eu
morava no Rio de Janeiro, em Copacabana, quase todas as manhãs gostava de
fazer minhas caminhadas pelo calçadão da Avenida Atlântica. Era um vaivém de
pessoas, quase se esbarrando umas contra as outras.
Um
dia, saí de casa mais cedo. Fazia um frio daqueles. Peguei um casaco velho e
joguei-o sobre os ombros e iniciei o meu percurso costumeiro, desviando-me dos
transeuntes e dos cocôs de cachorro.
Andei uns dois quilômetros. Quando estava já
perto da Praia do Leme, parei um pouquinho e vi deitado na areia um menino
franzino, de pele escura. Vestia uma bermuda toda suja. Imundo também ele
estava e sem camisa. Dormia profundamente.
Aproximei-me dele. As pessoas
transitavam pela calçada, sem sequer lançar um olhar sobre aquele ser humano
ali jogado.
Deu-me um aperto no peito e senti pena do
garoto. Lembrei-me da minha sofrida infância. Morava na roça e trabalhava, de
sol a sol, com meu pai.
Não quis acordar a criança. Tirei meu
casaco e, bem devagarzinho, coloquei-o sobre aquele corpo ali encolhidinho, certamente
com muito frio.
O menino
devia ter uns oito anos de idade. Talvez não tivesse pai nem mãe, nem ninguém
para cuidar dele. Tinha comigo uma nota de cinquenta reais. Consegui enfiá-la
no bolso interno do agasalho doado e me afastei. Continuei minha caminhada.
No dia
seguinte – era um sábado – não iria trabalhar. Fui dar uma volta pela linda Praia
de Copacabana. E quem eu vi? Aquele menino,
vestido com o meu casaco e vendendo balas.
Cheguei perto
dele e comprei todas as balas e ainda lhe dei dez reais para ele comprar um lanche.
Então, perguntei-lhe: “Você vende balas sempre por aqui? Mora onde?”
Ele respondeu; “Meu pai está preso e
minha mãe faleceu. Não tenho irmãos. Quando consigo um dinheirinho, compro
balas para revender. E assim vou vivendo. Mas, ontem tive muita sorte: uma pessoa
de Deus me deu esse casaco e deixou dentro dele cinquenta reais. Apanhei a grana,
tomei um café reforçado. Com o resto, comprei estas balas. E agora o senhor
está comprando todas. Deus lhe pague’”.
Cabisbaixo, deixei o menino e segui andando. Mas,
revoltado, gritei: “onde se esconde o pessoal dos Direitos Humanos?”
E pensei: “quantas crianças estão morando na
rua, em condições infra-humanas, meu Deus!”. Fechei o punho e dei um soco no ar.
Autor: Geraldo de Castro Pereira
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