terça-feira, 1 de setembro de 2015





                       
A MENINA ENTERRADA VIVA

 

 

Eu gostava de escutar
Esta triste historinha

Que minha mãe me contava
Quando eu era criancinha.

 
“Uma garota bonita
Com seus cabelos compridos

Morava numa fazenda
Com seus pais muito queridos.

 
Dos cabelos da menina
Sua mãe tinha ciúme:

Diariamente os penteava

E os untava com perfume.


Um dia, essa mãe zelosa
Morreu de febre amarela.

Ficou a pobre menina

Sem ninguém pra cuidar dela.


Seu pai trabalhava muito
Pra manter a fazendinha.

Pra cuidar de sua filha,
Casou-se com a vizinha.


Mas, a mulher era má,
Não gostava da enteada.

Tratava aquela menina.
Como uma reles criada.


 Aqueles cabelos lindos
Estavam embaraçados.

Tinham até uns piolhos

E estavam ressecados.

 
O pai, percebendo isto,
Deu uma bronca danada,

Falando para a mulher
Que ela estava desleixada.

 
Mandou que ela cuidasse

Dos cabelos da criança.
A madrasta não gostou

E bolou uma vingança.

Esperou o seu marido
Visitar um seu parente

Que morava muito longe
E estava muito doente.

 
Então, ela arquitetou

Um plano vil e nefando
Pra se livrar da garota

Que estava lhe perturbando.

 Uma pujante figueira
Havia lá no quintal

Carregadinha de figos.
Outra não havia igual!

 
A mulher disse à menina,
De um modo muito bruto,

Que cuidasse da figueira,
Sem deixar cair um fruto.

 
Se algum pássaro qualquer
Num fruto desse bicada,

Ela então seria logo

Com a morte castigada.

E, por azar da criança,
Um passarinho bicou

Um figo já bem maduro,
Que no chão se despencou.

 
A madrasta viu o figo
Na terra todo bicado.

Na cabeça da menina

Bateu-lhe com um machado.


E quando o esposo chegou
Da viagem planejada,

Junto à figueira estava

A sua filha enterrada
.

A madrasta ao pai daquela
Pobre e infeliz menina

Disse que ela morrera
De doença repentina.


O pai ficou desolado,
Chorava de noite e dia.

 Para ele terminou
Da casa toda a alegria.

 
Porém, depois de alguns dias,
Junto daquela figueira

Brotou ali uma planta
Em forma de cabeleira.


O pai, muito curioso,
Quis decepar a plantinha.

Mas, escutou uma voz
Bem triste e afinadinha:

 
“Meu pai, ó meu pai, querido,
Não me corte a cabeleira.

A madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira”.


Ficou todo assustado
Com o canto singular,

Buscou logo uma enxada
E começou a cavar.

 
Qual não foi sua surpresa:
A menina respirou.

Tirou-a logo dali,
Pro hospital a levou.
 
 Graças à habilidade

Do doutor que tratou dela,
A garota ficou boa,

Sem ter nenhuma sequela.

 
A madrasta, procurada
 
Pela polícia local,

Desapareceu no mundo,
Sem deixar nenhum sinal.

Pai e filha, bem juntinhos,
Viveram dias gloriosos.

E a figueira carregou-se
De figos deliciosos."

 

Obs: a história foi por mim recontada, sem perder o seu sentido.

 

Geraldo de Castro Pereira

 

 

 












Nenhum comentário:

Postar um comentário