RECEITA DE ANO NOVO
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido),
para você ganhar um ano,
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que, por decreto de esperança,
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
sábado, 30 de dezembro de 2017
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
Só
Florbela Espanca
Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca, na rua
A vejo chorar sozinha!...
As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas
Só a triste, coitadinha...
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha ...
Eu chego então à janela:
E fico a olhar para a lua...
E fico a chorar com ela! ...
terça-feira, 28 de novembro de 2017
Certezas
Não quero alguém que morra de amor por mim…
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível… E que esse momento será inesquecível..
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre… E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém… e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho…
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento… e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros… Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão… Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena.
MÁRIO QUINTANA
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível… E que esse momento será inesquecível..
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre… E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém… e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho…
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento… e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…
Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros… Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão… Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim… e que valeu a pena.
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
Canção
Cecília Meireles
No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas…
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto
Quando as ondas te carregaram,
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
ULTIMATUM
Mandado
de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu, reles esnobe plebeu,
E fora tu, imperialista das sucatas, charlatão da sinceridade,
E tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro...
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles.
E fora tu, imperialista das sucatas, charlatão da sinceridade,
E tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro...
Ultimatum a todos eles e a todos que sejam como eles.
Todos!
Monte de tijolos com
pretensões a casa,
Inútil luxo, megalomania triunfante...
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir...
Inútil luxo, megalomania triunfante...
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir...
Ultimatum a vós que
confundis o humano com o popular,
Que confundis tudo: vós, anarquistas deveras sinceros,
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar...
Que confundis tudo: vós, anarquistas deveras sinceros,
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar...
Sim, todos vós que
representais o mundo, homens altos,
Passai por baixo do meu desprezo;
Passai, aristocratas de tanga de ouro;
Passai, frouxos; passai, radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Passai por baixo do meu desprezo;
Passai, aristocratas de tanga de ouro;
Passai, frouxos; passai, radicais do pouco...
Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para
casa descascar batatas simbólicas.
Fechem-me tudo isso a
chave e deitem a chave fora!
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar, abram todas as janelas,
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo...
Sufoco de ter somente isso a minha volta.
Deixem-me respirar, abram todas as janelas,
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo...
Nenhuma idéia grande, nenhuma
corrente política
Que soe a uma ideia-grão...
Que soe a uma ideia-grão...
E o mundo quer a
inteligência nova, a sensibilidade nova...
O mundo tem sede de que
se crie...
O que aí está a apodrecer
a vida, quando muito, é estrume para o futuro.
O que aí está não pode durar, porque não é nada...
O que aí está não pode durar, porque não é nada...
Eu, da raça dos
navegadores, afirmo que não pode durar.
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo...
Eu, da raça dos descobridores, desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo...
Proclamo isso bem alto,
braços erguidos, fitando o Atlântico
E saudando abstratamente
o infinito.
Álvaro de Campos – 1917
(um dos heterônimos de Fernando Pessoa)
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
Quando
encontrar alguém..
Carlos
Drummond de Andrade
Quando encontrar
alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se
cruzarem e, neste momento, 22houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique
alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos
lábios fôr intenso, se o beijo fôr apaixonante, e os olhos se encherem d’água
neste momento, perceba que existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o
último pensamento do seu dia fôr essa pessoa, se a vontade de ficar juntos
chegar a apertar o coração, agradeça: Algo do céu te mandou um presente divino
— o Amor
Se um dia tiverem
que pedir perdão um ao outro por algum motivo e, em troca, receber um abraço,
um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um para o outro. Se por algum motivo você
estiver triste, se a vida lhe deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu
sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa
maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir,
em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado…
Se você achar a pessoa maravilho- samente linda, mesmo ela estando de pijamas
velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados… Se você não consegue trabalhar
o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite… Se você não
consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado…
Se você tiver a
certeza que vai ver a outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que
vai continuar sendo louco por ela… Se você preferir fechar os olhos, antes de
ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. Muitas pessoas
apaixonam-se muitas vezes na vida, poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor
passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
É o livre arbítrio. Por isso, preste atenção
nos sinais. Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor
coisa da vida: o Amor!!quinta-feira, 2 de novembro de 2017
Desencanto
Manuel
Bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento , de desencanto.
Fecha meu livro,se por agora
Não tens motivo algum de pranto.
Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão.
Dói-me nas veias amargo e quente,
Cai gota à gota do coração.
E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
De desalento , de desencanto.
Fecha meu livro,se por agora
Não tens motivo algum de pranto.
Meu verso é sangue , volúpia ardente
Tristeza esparsa , remorso vão.
Dói-me nas veias amargo e quente,
Cai gota à gota do coração.
E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
O Teu Riso
Tira-me o pão, se quiseres,tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra,
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso. E,se de súbito,
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
Perto do mar no outono,
o teu riso deve ergue
a sua cascata de espuma.
E na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas, quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca,
porque sem ele morreria.
Pablo Neruda
domingo, 22 de outubro de 2017
Para quê?!
Florbela Espanca (poetisa portuguesa)
Tudo é vaidade neste mundo vão…
Tudo é tristeza, tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!
Tudo é tristeza, tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!
Até o amor nos mente, esta canção
Que o nosso peito ri à gargalhada,
Flor que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo chão!…
Que o nosso peito ri à gargalhada,
Flor que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo chão!…
Beijos de amor! Pra quê?! … Tristes vaidades!
Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!
Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!
Só neles acredita quem é louca!
Beijos de amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta!…
Beijos de amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta!…
segunda-feira, 16 de outubro de 2017
SIC TRANSIT GLORIA MUNDI
Abandonaste-me por eu ser pobre,
Vendendo tua alma por dinheiro.
Onde ficou aquele porte nobre
Que ostentavas de modo altaneiro?
Éramos jovens - isto é verdade.
Mas, eu tinha o meu sonho bem guardado
De ir em busca da felicidade
E lutar com denodo ao teu lado.
Agora estou idoso neste mundo
E vivo com decência a minha vida.
E tu também estás envelhecida,
Mas vives só, naquele asilo imundo.
Onde estão teu orgulho e teu conforto?
Contigo tudo está sepulto e morto!
Geraldo de Castro Pereira
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
A criança que fui chora na estrada...
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
FERNANDO PESSOA.
domingo, 8 de outubro de 2017
Nel mezzo del Camin…
Olavo Bilac
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
domingo, 1 de outubro de 2017
Trovinhas
No deserto escaldante
Da minha vida vazia
Não tenho sequer a
sombra
Desta tua companhia
Meus cabelos eram
pretos.
Agora fiquei grisalho.
Na verdade, foram beijos
Enviados pelo orvalho.
“Quem canta espanta seus males”,
Assim que diz o ditado.
Espanto também os outros,
Se eu canto desafinado.
Homem, ao passar dos anos,
Sofre tantos desatinos:
Costuma não ver de perto,
Mas vê de longe os cretinos
Contigo vivo sonhando,
Aos poucos me consumindo...
Contigo sonho acordado,
Contigo sonho dormindo.
GERALDO DE CASTRO PEREIRA
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
TEIA DE
ARANHA
Tece a
aranha a sua teia
Devagar, fio
por fio.
Age por
sobrevivência,
Este é o seu
desafio.
Sua teia é
sua casa,
Caem nela os
insetos,
Que volitam pelos
ares,
Distraídos e
inquietos.
Também teci
minha teia,
Como fazem
as aranhas.
Coloquei mil armadilhas,
Nela pus mil
artimanhas.
Mas, um dia
fui incauto,
Caminhei,
corri a esmo.
Tropecei na
minha teia:
Fiquei preso
de mim mesmo!
AUTOR:
GERALDO DE CASTRO PEREIRA
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
Para vc se distrair
Qual é o fim da picada?
-Quando o mosquito vai embora.
Qual a comida que liga e desliga?
-O strog-on-off.
Como se faz para ganhar um choquito?
-Coloque o dedinho na tomadita.
Qual o vinho que não tem álcool?
-Ovinho de codorna.
O que a banana suicida falou?
-Macacos me mordam.
Como o elétron atende ao telefone?
-Próton.
Qual a parte do corpo
que cheira bacalhau?
-O nariz.
Por que as estrelas não fazem miau?
Porque astro-no-mia.
Como se trata olho gordo
-com colírio diet.
domingo, 17 de setembro de 2017
ADÃO E EVA
Autor: Sidney Moraes (Rio Bonito)
Existem certas pessoas, carentes de
entendimento,
Que acham que não foi Deus que criou o casamento.
A principio lhes parece que não foi
conveniente
Unir dois seres avessos, de fato bem
diferentes.
Mas nós, que somos cristãos e temos boa
memória,
Sabemos muito bem como surgiu essa história.
Adão andava ocupado, trabalhando com capricho,
Se esforçando o dia inteiro,pensando em nome
de bicho:
Era tigre, porco, tatu, macaco, alce, leão.
Adão andava inspirado e foi mesmo abençoado com tanta Imaginação.
Mas, é possível que o sujeito também tenha
reparado
Que todo animal macho tinha uma fêmea do seu
lado.
E Deus, por demais atento, sondando-lhe o
coração,
Decidiu que era preciso dar um fim à solidão
e disse-lhe:
- Adão, filho querido, não quero te ver tão só;
Darei por companheira uma joia de primeira, da costela e não do pó.
E, pondo Deus em ação aquilo que pretendia,
Nocauteou nosso Adão, dando início à cirurgia.
E Deus cortou-lhe o osso, pondo carne no
lugar.
E assim fez a princesa, esperando ele
acordar.
Quando o varão despertou daquele sono pesado,
O corte da cirurgia já tinha cicatrizado,
E Deus trouxe a varoa e a entregou a Adão,
E ouviu um brado de glória e a seguinte
exclamação:
-"Ela é carne da minha carne. Ela osso do meu
osso".
E adão foi pra galera e fez aquele alvoroço.
E, a partir daquele dia, o homem, bem mais
ocupado,
Deixou pra trás muitos bichos sem o nome
catalogado.
E até hoje rola um papo, bem machista e
corriqueiro,
De que o homem é mais importante, porque foi
feito primeiro.
Algumas mulheres se irritam e afirmam, de arma
em punho,
Que a vinda da obra-prima vem sempre após o
rascunho.
Mas há homens que falam, e há mesmo quem acredite,
Que Deus fez Adão primeiro para Eva não dar palpite.
Mas isso é irrelevante pro sucesso da vida a
dois.
Pra ser feliz, não importa quem veio antes ou
depois,
Porque Deus fez tudo perfeito - discorde quem
quiser.
Mas o melhor da mulher é o homem,
E o melhor do homem é a mulher.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
CONTRASTE
“Quando partimos no verdor dos anos
Da vida pela estrada florescente,
As esperanças vão conosco à frente,
E vão ficando atrás os desenganos.
Rindo e cantando, céleres, ufanos,
Vamos marchando descuidosamente;
Eis que chega a velhice, de repente,
Desfazendo ilusões, matando enganos.
Então, nós enxergamos claramente
Como a existência é rápida e falaz,
E vemos que sucede, exatamente,
O contrário dos tempos de rapaz:
Os desenganos vão conosco à frente,
E as esperanças vão ficando atrás!”
Padre Antonio Thomaz
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
OS POEMAS
MÁRIO
QUINTANA
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
segunda-feira, 28 de agosto de 2017
BARATA OU CARO
(Nanoconto)
Joseph, alemão, natural de Berlim, era um senhor de
sessenta anos.Veio morar no Brasil aos vinte anos de idade.Quando aqui chegou, aconselharam-no a residir numa colônia de pomeranos numa cidade
denominada Santa Leopoldina, no Estado do Espírito Santo.
Lá foi trabalhar numa lavoura de café. Casou-se com a linda
filha do dono da propriedade.
Joseph tinha
muita dificuldade com a língua portuguesa. O maior empecilho era o gênero das
palavras. Difícil para ele distinguir os vocábulos femininos dos masculinos. Dizia,
por exemplo: “boi gorda, gato velha etc.
Um dia, foi visitar um parente em Vitória. Pegou sua
caminhonete
Na estrada sentiu fome. Viu um barzinho muito simples.
Encostou seu veículo e perguntou qual o prato do dia.
O dono do
estabelecimento lhe disse::”frango à passarinho”.
Sentou-se a uma velha mesinha, quase caindo aos pedaços.
Pediu então o tal do franguinho à passarinho.
Estava um tempo muito nublado e frio e o local era muito mal
iluminado. Veio a comida.
Enquanto se deliciava com a refeição, um rapaz chegou
perto dele, olhou a comida e viu que no meio dos pedaços de frango havia muitas
baratas fritas.
Então, disse ao homem:
“O senhor está comendo muita barata’”.
E o alemão virou-se para o moço e lhe respondeu:
“Comida muito gostoso. Barata ou caro, quero mais
franguinho à passarinha”.
E fez um sinal para o garçom para lhe servir mais uns
pedaços de frango misturados com baratas fritas.
Geraldo de Castro Pereira.
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
FONTE DE CASTÁLIA
A você
dediquei o meu carinho
E a elegi como estrela divinal
Que iluminava
sempre meu caminho
Com todo o
resplendor do seu fanal.
Você me
abandonou. Fiquei no escuro.
Não tive
mais a luz do seu olhar.
Entre nós
foi erguido um grande muro
Que veio ,de
uma vez, nos separar.
Da solidão
agora amargo o fel.
Você menosprezou
o amante fiel
E me impingiu tamanha represália.
Sentindo embora ainda muita mágoa,
Terei saudade de beber da água
Que flui de sua fonte de Castália!
Sentindo embora ainda muita mágoa,
Terei saudade de beber da água
Que flui de sua fonte de Castália!
Geraldo de Castro Pereira
Obs; Castália é uma náiade (uma ninfa aquática) que foi transformada por Apolo em nascente de água, perto de Delfos (a Fonte de Castália) e na base do Monte Parnaso.
Castália inspirava o gênio poético daqueles que bebessem das suas águas ou ouvissem o movimento das suas águas. A água sagrada também era usada para as limpezas dos templos em Delfos - Fonte da informação: Googlesexta-feira, 11 de agosto de 2017
Folha Caída
Violento furacão
Sacudiu a a frondosa árvore
Dos meus esperançosos sonhos.
E uma verde folhinha
Desprendeu-se, solitária,
Esvoaçando-se pelos ares.
Acossada pelo vento,
Subiu, subiu tão alto,
Parecendo uma avezinha,
Ágil e afoita.
Poucas horas depois,
Ei-la tombada
No pó do chão,
Murcha e morta!
Dos meus esperançosos sonhos.
E uma verde folhinha
Desprendeu-se, solitária,
Esvoaçando-se pelos ares.
Acossada pelo vento,
Subiu, subiu tão alto,
Parecendo uma avezinha,
Ágil e afoita.
Poucas horas depois,
Ei-la tombada
No pó do chão,
Murcha e morta!
Era a folha da esperança!
Geraldo de Castro Pereira
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Assembleia dos Ratos
Um gato enorme e faminto,
Esperto como uma lebre,
Achou um bando de ratos
Num velho e pobre casebre.
Todo o dia ele caçava
Um rato com sua garra.
E se fartava à vontade,
Fazendo grande algazarra.
Os ratos, apavorados,
criaram um sindicato
Pra acabarem de uma vez
Com esse malvado gato.
Formaram-se comissões;
marcaram uma assembleia.
Dom Ratão foi logo eleito
Por toda aquela plateia.
E , todos, bem agitados,
Reuniam-se noite e dia,
Três ratazanas bem fortes
Puseram-se de vigia.
Dom Ratão, inteligente,
Matutou um grande plano:
Colocar enorme guizo
No pescoço do bichano.
Convocou outra assembleia
Pra votar o seu intento.
Os ratos compareceram
Cheios de contentamento.
E, por unanimidade,
Deram sua aprovação
À ideia genial
Do seu chefe, Dom Ratão.
Cada rato saberia
-isto seria um colosso –
O paradeiro do gato
Com o guizo no pescoço.
Mas, no fim da reunião,
Velho rato com juízo
Pediu a palavra e disse:
“Boa ideia essa do guizo!
Mas, aqui estou pensando
E meditando comigo:
Quem poria este artefato
No pescoço do inimigo?”
Ante aquela indagação,
Todos eles se calaram.
Botaram o rabo entre as pernas
E logo se dispersaram.
Como moral da história
Escuta esta minha fala:
“É fácil ter uma ideia,
Difícil é executá-la.”
OBS: versificação livre por mim feita de uma fábula bem conhecida.
Geraldo de Castro Pereira
sábado, 5 de agosto de 2017
Adeus, Árvore
da Minha Infância!
Sessenta anos
depois!Voltei
Para te
encontrar, oh árvore de minha infância!
Estavas
morta, com suas raízes arrancadas.
Os pássaros
sumiram,
As flores
viraram pó.
Despareceram
os insetos.
Por que não
me esperaste?
Queria
morrer e ser enterrado
A teus pés.
Sinto ainda o perfume de tuas flores
E o aconchego
de tua sombra!
Mas, meu sorriso
fugiu-me dos lábios
E as
lágrimas inundaram a face
Da minha saudade!
Da minha saudade!
Geraldo de
Castro Pereira
segunda-feira, 31 de julho de 2017
SABEDORIA
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Não te percas em vã filosofia...
O negócio é viver... Vive primeiro!
O pouco que alcançaste é o verdadeiro,
e o resto, sonho só, - tudo utopia.
Deixa passar o que não pode ser!
A esperança do vão, é doentia...
Ergue a mão ao que a mão pode colher
e ao que está longe, esquece e renuncia...
Se tiver que chegar o inesperado,
colhe-o, que essa é a atitude de quem vence:
saber colher o bem predestinado...
A vida é o mais efêmero dos bens.
Nela em verdade, nada te pertence,
nem sabes aonde vais...nem de onde vens...
O negócio é viver... Vive primeiro!
O pouco que alcançaste é o verdadeiro,
e o resto, sonho só, - tudo utopia.
Deixa passar o que não pode ser!
A esperança do vão, é doentia...
Ergue a mão ao que a mão pode colher
e ao que está longe, esquece e renuncia...
Se tiver que chegar o inesperado,
colhe-o, que essa é a atitude de quem vence:
saber colher o bem predestinado...
A vida é o mais efêmero dos bens.
Nela em verdade, nada te pertence,
nem sabes aonde vais...nem de onde vens...
segunda-feira, 24 de julho de 2017
O MENINO DE RUA
Quando eu
morava no Rio de Janeiro, em Copacabana, quase todas as manhãs gostava de
fazer minhas caminhadas pelo calçadão da Avenida Atlântica. Era um vaivém de
pessoas, quase se esbarrando umas contra as outras.
Um
dia, saí de casa mais cedo. Fazia um frio daqueles. Peguei um casaco velho e
joguei-o sobre os ombros e iniciei o meu percurso costumeiro, desviando-me dos
transeuntes e dos cocôs de cachorro.
Andei uns dois quilômetros. Quando estava já
perto da Praia do Leme, parei um pouquinho e vi deitado na areia um menino
franzino, de pele escura. Vestia uma bermuda toda suja. Imundo também ele
estava e sem camisa. Dormia profundamente.
Aproximei-me dele. As pessoas
transitavam pela calçada, sem sequer lançar um olhar sobre aquele ser humano
ali jogado.
Deu-me um aperto no peito e senti pena do
garoto. Lembrei-me da minha sofrida infância. Morava na roça e trabalhava, de
sol a sol, com meu pai.
Não quis acordar a criança. Tirei meu
casaco e, bem devagarzinho, coloquei-o sobre aquele corpo ali encolhidinho, certamente
com muito frio.
O menino
devia ter uns oito anos de idade. Talvez não tivesse pai nem mãe, nem ninguém
para cuidar dele. Tinha comigo uma nota de cinquenta reais. Consegui enfiá-la
no bolso interno do agasalho doado e me afastei. Continuei minha caminhada.
No dia
seguinte – era um sábado – não iria trabalhar. Fui dar uma volta pela linda Praia
de Copacabana. E quem eu vi? Aquele menino,
vestido com o meu casaco e vendendo balas.
Cheguei perto
dele e comprei todas as balas e ainda lhe dei dez reais para ele comprar um lanche.
Então, perguntei-lhe: “Você vende balas sempre por aqui? Mora onde?”
Ele respondeu; “Meu pai está preso e
minha mãe faleceu. Não tenho irmãos. Quando consigo um dinheirinho, compro
balas para revender. E assim vou vivendo. Mas, ontem tive muita sorte: uma pessoa
de Deus me deu esse casaco e deixou dentro dele cinquenta reais. Apanhei a grana,
tomei um café reforçado. Com o resto, comprei estas balas. E agora o senhor
está comprando todas. Deus lhe pague’”.
Cabisbaixo, deixei o menino e segui andando. Mas,
revoltado, gritei: “onde se esconde o pessoal dos Direitos Humanos?”
E pensei: “quantas crianças estão morando na
rua, em condições infra-humanas, meu Deus!”. Fechei o punho e dei um soco no ar.
Autor: Geraldo de Castro Pereira
sexta-feira, 21 de julho de 2017
"SEU" JOÃO DE DEUS
(lembranças da minha infância)
Era um alegre velhinho,
De cor bastante trigueira.
Era nosso bom vizinho
Doutro lado da porteira.
Todos os dias eu via
O bom velhinho passar.
Com a enxada às costas ia
Para roça trabalhar
.
Trabalhava todo o dia
No seu pequeno roçado.
O sol de cheio batia
Em seu rosto já queimado.
A enxada ia resvalando
Levemente pelo chão,
Enquanto o velho entoava
Linda e sentida canção.
E quando o dia, já findo,
À tarde dava lugar,
Ele deixava, sorrindo,
O seu duro labutar.
Mas, quando seu vulto sereno
Despontava no caminho,
E, para nós, num aceno,
Esbanjava seu carinho,
Nós, quais pássaros em bando,
Correndo, de pé no chão,
Íamos logo gritando:
“ ê, “seu” , João! Lá vem “seu”
João! ¨ -
E ele, com toda a presteza,
Para nós feliz sorria.
Dizia-nos,com leveza:
“minhas crianças, bom dia!”
.
E nós – feliz criançada –
como aves a gorjear,
Íamos sempre à morada
Do “seu” João passear.
Após muita diversão,
Despedíamos, lembrando
Do bom velhinho” seu” João,
Com aquele semblante brando.
E assim contente vivia
O nosso velho “seu” João,
Trabalhando todo o dia,
Cheio de calos na mão.
Mas, um dia aconteceu
Quando estava a capinar,
Um espinho no pé seu
Sorrateiro, penetrar.
E o pobre velho coitado
Não pôde mais caminhar.
Tinha que ficar deitado,
Sem poder mais trabalhar.
Quando fui ao Seminário,
Despedi-me, pesaroso,
Do nosso sexagenário
Nesse estado lastimoso.
Mas, horrendo pensamento
Na minha alma vi nascer.
Seria um pressentimento
De jamais torná-lo a ver?.
Muitos anos transcorreram.
Mas, um dia , tão dorido,
Os meus pais me escreveram
Que “seu” João tinha morrido.
Eu fiquei muito tristonho
Com a morte do ”seu” João.
Pareceu-me vê-lo em sonho,
Estendido num caixão.
Longe, eu pensei, sozinho,
com um suspiro profundo:
“¨Está no céu o velhinho,
Pois fez tanto bem no mundoӬ.
Mas, hoje, nele pensando,
Parece-me vê-lo então ,
Com a enxada capinando
O mato verde do chão.
Geraldo de Castro Pereira
sexta-feira, 14 de julho de 2017
O MENINO LEVADO DA BRECA
Joaquim, por todos chamado de “Quinzinho”,
era um menino franzino, com suas pernas cheias de perebas devido a picadas de
mosquitos. Piolhos fervilhavam em sua cabeça. Andava descalço, porque seus pais
não tinham condições de comprar para ele nem sequer um chinelo dos mais
baratos. Por isso, os chamados “bichos de pé” faziam a festa entre seus dedos
do pé.
O coitado nasceu e vivia num pequeno
sítio. Usava umas calças remendadas, que iam até o joelho, uma camiseta
desbotada e um chapeuzinho de palha.
Mas do que ele mais gostava era caçar
passarinhos. Fazia pelotas de barro e as queimava para servirem de projéteis
colocados em seu estilingue. Tinha uma pontaria daquelas.
Sua mãe lhe fizera uma capanga de pano
velho. Ele a enchia com as pelotas de barro e saía pelas matas. Voltava para
casa com mais de dez passarinhos abatidos pelo seu certeiro estilingue.
Ele mesmo depenava as avezinhas e as colocava
numa panela fervendo.Depois, pedia para sua mãe fritá-las numa grande
caçarola. E, sofregamente, devorava tudo com farinha de milho.
Apanhava também tanajuras e enfiava um palito
no traseiro delas para fazê-las girar e elas ficavam batendo as asinhas,
desesperadas, até morrerem.
Coitadinhas das cigarras. Amarrava
linhas no pescocinho delas para, presas, fazerem-nas voar, como se fossem
pequenas pipas. Morriam estranguladas pelas linhas cortantes.
De
noite, pegava uma vara de bambu e a sacudia para capturar morcegos; apanhava
vaga-lumes e os colocava dentro de um vidro com algodão para servirem de
pequenas lanternas.
De outra feita, com seu bodoque acertou
um beija-flor que avidamente sugava o néctar das flores da paineira exuberante
existente no meio de um pasto. Correu com o pássaro na mão, e, alegremente, foi
mostrá-lo à sua mãe. Levou uma tremenda represália. Ela lhe disse: ---“meu filho,
esta avezinha é de Nossa Senhora. Você não pode fazer-lhe mal”. Dona Filomena,
sua mãe, colocou a ave debaixo de uma bacia de alumínio e deu várias batidas
por cima. Ao levantar a bacia, a ave estava vivinha e saiu voando, ainda meio
tonta.
Numa bela manhã toda ensolarada, como seu pai
estava trabalhando no garimpo já fazia quase um mês, resolveu prender um
franguinho dentro de um pequeno armário. Quando seu pai chegou, Quinzinho correu
para tirar seu prisioneiro do armário. Qual não foi sua desilusão, ao verificar
que o penoso já estava morto e até fedendo. Ele se esqueceu de dar-lhe água e
comida e deixar uma fresta para o pobrezinho respirar.
Certa vez, quando sua mãe estava fazendo doce
de marmelo num grande tacho de cobre, o menino ficou ali por perto. De repente,
enfiou uma colher de pau no tacho para experimentar a guloseima. A colher caiu,
com o doce ainda fervendo, em cima de seu pé. Sem saber o que fazer com tanta
dor, mergulhou o pé numa bacia com água, deixando-o em carne viva. E, para
complicar a situação, seu pai aplicou um produto na ferida, próprio para tratar
aftosas de animais. A ferida agravou-se mais ainda e demorou quase um ano para
cicatrizar-se. Um dia, montando em um jumentinho,
foi levar comida para seu pai, que estava consertando uma estrada de carro de
boi cerca de uns cinco quilômetros do sítio. No caminho, do outro lado da cerca
de arame, viu um filhote de anum.
Sem demora, apeou-se do animal, largou
a marmita de comida no chão e avançou para cima do filhotinho para apanhá-lo.
Nem enxergou a cerca. Ficou todo arranhado pelo arame. Em razão do fato, a
comida chegou fria às mãos de seu papai. Levoi dele uma surra daquelas. E seu
pai lhe perguntou:
- “para que serve um filhote de anum,
uma ave que não canta bonito e se alimenta de vermes e carrapatos de animais?”
“Ah, pai, ele era tão bonitinho!
Meu vizinho cria até um urubu em sua casa.”
Só mesmo coisas de um menino levado da breca! Mas, que divertimentos
poderia ter uma criança vivendo numa roça?
Autor: Geraldo de Castro Pereira
domingo, 9 de julho de 2017
A Criança
Este mundo certamente
Sem graça
pra nós seria,
,
Se não
houvesse criança
,
Para nos dar
alegria.
Sem as crianças
o mundo
Perderá suas
raízes.
Vamos então
protegê-las,
Tornando-as
mais felizes.
Fico
tristonho ao ver
Desamparada
a criança.
Muitas vezes
sem um lar,
Sem os pais,
sem esperança.
O trabalho
infantil
Deve ser
erradicado.
Está na
Constituição
Este
princípio sagrado.
Trabalhei,
quando menino,
Fazendo
quase de um tudo,
Em prejuízo
à saúde,
Principalmente
ao estudo.
Só fui para
uma escola
Aos onze anos
de idade,
Pois eu
morava na roça,
Bem longe da
cidade.
No Brasil
isto é comum,
Máxime em
zonas rurais,
Devido à
muita pobreza
E ignorância
dos pais.
Que o
Estatuto da Criança
Não fique só
no papel.
Vamos, pois,
fiscalizar
O seu
cumprimento fiel.
Autor: Geraldo de Castro Pereira
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