segunda-feira, 22 de junho de 2015





                        
                          C E N  A    D  E     RUA

 

 

 


                                         “A alegria do pobre, ainda que menos durável, é                                       sempre mais intensa que a do rico”. (Marquês de Maricá).     

 

 

                   Manhã de domingo. O sol, tímido, não saía das nuvens. Fazia um friozinho gostoso.
                   Fui convidado por uma amiga para assistir a um espetáculo a ser realizado no interior do Conservatório Mineiro de Música.
                  Após uma boa caminhada pelas ruas de Belo Horizonte e uma espiadela na feira artesanal, chegamos ao local do evento. E o que vimos? - Os portões do Conservatório fechados. O espetáculo havia sido adiado. Para nós foi uma frustração.
                   Em compensação, visualizamos na escadaria da Prefeitura um conjunto musical, composto de seis mulheres e três homens, todos aparentando idade de mais de cinquenta anos. Estavam cantando, ao som de um violão e de  instrumentos de percussão, músicas de origem mexicana.  
                Eram canções agradáveis, dentre as quais se citam: “Alma llanera”, “La Paloma”, ‘Carnavalito”, “Catito Mio”.
                Ficamos ali entretidos com o repertório deles. De repente, um senhor, afrodescendente, beirando os sessenta anos, começou a dançar sozinho em frente do conjunto.
                Dançava e rodopiava, fazendo, desengonçado, uns requebros com a cintura. Acabou por roubar a cena, porquanto o pessoal prestava mais atenção nele do que nos esforçados cantadores. Era engraçado: fazia trejeitos, caretas, colocava o dedo indicador na boca quase sem dentes.
                No seu show solitário, começou a convidar os transeuntes para dançarem também. Chegou, inclusive, a enlaçar, com seus magros braços, a cintura de uma idosa senhora, mas ela saiu fora dele.
                Só parou sua desengonçada dança, quando o conjunto encerrou o espetáculo. O povo aplaudiu mais o dançarino do que o grupo musical.
               Esta cena de rua me deixou encantado.
               Minha amiga e eu fomos andar mais um pouco. Visitamos a feira hippie mais uma vez, mas agora detalhadamente. Ela comprou algumas lembrancinhas para seus sobrinhos, enquanto eu adquiri um boné do meu time Cruzeiro.
              Depois, fomos dar uma volta pelo bucólico Parque Municipal, aspirando o perfume das flores e admirando as crianças jogarem miolos de pão para os peixes que, ligeiros, pululavam nos lagos.
              Ao retornarmos, a imagem daquele homem simplório não me saía da cabeça. Fiquei remoendo a frase do poeta Mário Quintana: “A felicidade é um sentimento simples; você pode encontrá-la e deixá-la ir embora, por não perceber a sua simplicidade”.

 

               Autor: Geraldo de Castro Pereira.        

 

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