quarta-feira, 1 de abril de 2015




 
A FLOR E A FONTE – Vicente de Carvalho -

"Deixa-me, fonte!" Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria
Cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
"Não me leves para o mar."

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai, balanços do meu galho,
"Balanços do berço meu;
"Ai, claras gotas de orvalho
"Caídas do azul do céu!..."

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,
"Cantigas do rouxinol;
"Ai, festa das madrugadas,
"Doçuras do por do sol;

"Carícias das brisas leves
"Que abrem rasgões de luar...
"Fonte, fonte, não me leves,
"Não me leves para o mar!"

*

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor.

Pequena biografia de Vicente de Carvalho:



Começou como poeta lírico. Depois, fez parte do grupo de jovens poetas parnasianos. Escreveu lindos poemas, como "Palavras ao mar", "Cantigas Praianas", "A ternura do Mar", "Fugindo ao cativeiro", "Rosa, rosa de amor", "Velho Tema", "O Pequenino Morto" e o poema acima publicado neste blog "A Flor e a Fonte', dentre muitos outros. Era chamado de " O Poeta do Mar". Nasceu em Santos no dia cinco de abril de 1866, faleceu em 22 de abril  1924. Além de poemas, escreveu também contos, foi advogado, jornalista, abolicionista, político e magistrado.

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