sábado, 2 de maio de 2015



O   CURIANGO E O URUTAU



O CURIANGO E O URUTAU


 
Certa vez, um curiango,
Para assistir a uma festa,
Foi pedir um belo terno
Ao urutau na floresta.
 
Pediu tanto o curiango,
Pediu tanto e até chorou
Que o  urutau, compassivo,
De tanto dó lhe emprestou.
 
Ostentando a roupa nova,
Chegou, garboso e contente,
Àquela festa  famosa,
Esnobando toda a gente.
 
Mas, terminado o pagode,
O curiango safado
Nunca mais quis devolver
O lindo terno emprestado.
 
Por isso é que o urutau
Nas noites de lua, em ais,
Canta, sempre, lamentando:
" foi, foi, foi, não voltou mais!”
 
E o curiango, de longe,
Que do urutau zombou,
Num tom assim de galhofa,
Responde: “amanhã eu vou”¨.
 
Quanta gente neste mundo,
Num gesto vil, desleal,
Ao receber uma dádiva,
Retribui o bem com o mal.


Obs: esta  "estória" (ou fábula) foi contada pela minha mãe, quando eu era criança e morávamos na fazenda chamada "Murubau (que, aliás, dá nome a este meu blog).Curiango é uma espécie de coruja que de noite vive à beira das estradas (também conhecido por "bacurau"), e seu canto imita a expressão:"amanhã eu vou". Já o urutau  é também uma ave noturna (também conhecida por "mãe da lua" em muito lugares do interior) , cujo canto lembra a frase;" foi,foi,foi, não voltou mais". Daí construí o jocoso poema. É curioso ainda notar que em muitas ciadades do Brasil,como Belo Horizonte, por exemplo,os ônibus que circulam durante a noite são chamados de "bacuraus". Bacurau, como acima dito, é sinônimo da ave "curiango".

 Quanto ao urutau, seu nome provém da língua tupi e significa  "ave fantasma”, segundo estudiosos.

Geraldo de Castro Pereira















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